Nuno Catarino: “Desafio é depender menos da venda de jogadores”

Portugal Football Summit

CFO do SL Benfica juntou-se a Francisco Salgado Zenha, do Sporting CP, e José Pedro Pereira da Costa, do FC Porto, para falar sobre o futuro dos clubes

SL Benfica, Sporting CP e FC Porto juntaram-se à conversa sobre o futuro das finanças no futebol e apresentaram-se a uma só voz. Entre as ideias que uniram Nuno Catarino, Francisco Salgado Zenha e José Pedro Pereira da Costa, houve uma a sobressair, como explicou o CFO dos encarnados.

Salientando os 50 milhões de euros investidos no Estádio da Luz nos últimos 5 anos, Nuno Catarino apontou que é preciso apontar para novas receitas para não depender daquela que é a mais comum. “Há um investimento permanente para melhorar a experiência do adepto e achamos que podemos fazer muito mais. Há muitas oportunidades. Este ano estamos a crescer na venda online de merchandising, aumentámos as vendas físicas, ainda que não tanto como online. Há muito potencial para crescer. Tem de ser o nosso mantra para nós próprios dependermos menos da linha de receitas que é a venda de jogadores. Esse tem de ser o desafio”, destacou.

Considerando “anormal” o facto de Portugal lutar para ser a sexta maior liga da Europa quando a economia no País não acompanha, Nuno Catarino salienta a importância de não perder o comboio para campeonatos como o belga ou o holandês. “Bélgica e Holanda conseguiram avançar mesmo não tendo à partida clubes grandes tão fortes como Portugal tem. Mas conseguiu ter uma estrutura de clubes médios. A preocupação tem de ser dupla: como mantemos este bolo a crescer para uma indústria exportadora e como conseguimos manter a sustentabilidade financeira também do futebol português. Não há outro país igual, em que 90% dos adeptos se identificam logo com uma de três equipas. Como fazemos crescer os clubes médios mais ainda para projetarmos mais o futebol português?”, apontou, avisando que “os jogadores vão ficar cada vez mais caros”.

A falta de liquidez

A identificação dos desafios que Sporting CP, FC Porto e SL Benfica enfrentam foi o principal destaque, com Francisco Salgado Zenha, Vice-presidente Executivo dos leões, a ser muito direto quanto ao que considera urgente acontecer no futebol português.

“Um dos problemas do futebol português é liquidez. Ao longo destes últimos anos, havia uma gestão muito de presente. Apenas uma tentativa de resolver os problemas no curto prazo sem pensar no longo prazo. O que vemos nos últimos anos é uma inversão na Europa, e julgo que também no futebol português, colocando os três grandes e o Sp. Braga, que estão a fazer o seu caminho para dar o passo seguinte e ter uma gestão sem estar só focada na tesouraria e ter uma perspetiva de longo prazo e ter uma estratégia que vai para além daquilo que é o presente da equipa de futebol e da competitividade dentro de campo para a época presente”, sustenta.

Salgado Zenha lançou também a ideia de que é necessário apostar cada vez mais no futebol como indústria de entretenimento, precisamente para minimizar a dependência da venda de jogadores. Além disso, pede uma distribuição eficiente na centralização dos direitos televisivos, de forma a alimentar a luta portuguesa no ranking, bem como um controlo financeiro robusto em Portugal, semelhante ao que as equipas que disputam provas internacionais têm na UEFA.

O dirigente leonino lembra que será mesmo necessário fortalecer os clubes portugueses para não perder velocidade. “Neste mercado de verão, foi muito difícil contratar. Estivemos a resistir para vender e tivemos dificuldades em contratar. É um sinal de que o mercado europeu e os clubes lá fora já estão a entrar nesse patamar em que não precisam de vender também. Então a contratação vai tornar-se cada vez mais difícil. A situação financeira dos clubes europeus está cada vez mais robusta. Ou nós em Portugal caminhamos nessa linha de robustez, ou vamos ter mais dificuldade em acompanhar os nossos concorrentes lá fora”, resumiu, antes de pedir mais apoios fiscais, lembrando mesmo algo que aconteceu com o SL Benfica.

“Pôs-se um limite ao programa Regressar muito por causa do caso de Di María porque estamos a alimentar jogadores de futebol para regressar. Mas qual é o mal? O jogador de futebol, mais do que qualquer outra profissão, está cá praticamente 365 dias por ano, tem os filhos na escola, tem uma casa, está a consumir aqui, não vem aqui e depois vai embora para só ter a residência. Não vemos mal que isso seja feito para o futebol. Cada vez que há algum incentivo fiscal que é genérico e também afeta positivamente o futebol, arranja-se logo uma forma de retirar o futebol dessa equação. É altamente injusto”, analisou.

Entraves fiscais limitam trabalho

Dentro da mesma linha dos seus homólogos, José Pedro Pereira da Costa, CFO do FC Porto, juntou um outro tema a debate: como as questões fiscais limitam a ação lá fora. “Nos salários de jogadores, mais de 50% do custo vai para impostos e segurança social, e não me refiro a termos sistemas de IRS mais baixos para jogadores, só digo alinharmos com a média. Somos o país da Europa com taxa de IRS mais alta, temos o IVA dos bilhetes com taxa mais alta e o seguro de acidentes de trabalho também os mais altos da Europa. Isto fruto de questões de contexto local, que impõe este tipo de custos adicionais”, explicou.


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